O Partido Liberal (PL), legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro, deu um passo decisivo na articulação pela votação do polêmico Projeto de Lei da Anistia. O partido protocolou nesta semana, na Câmara dos Deputados, um requerimento de urgência para acelerar a tramitação da proposta que pretende anistiar investigados e condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília.
O que chama atenção é que o pedido já conta com o número mínimo necessário de 257 assinaturas — incluindo parlamentares de partidos que integram formalmente a base de apoio do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como União Brasil, PSD, Republicanos, MDB e até PSB, sigla do vice-presidente Geraldo Alckmin.
A adesão de deputados governistas ao pedido de urgência pegou o Planalto de surpresa e acendeu um alerta entre líderes do Executivo. Interlocutores de Lula avaliam que a movimentação expõe rachaduras na base aliada e pode comprometer articulações políticas mais amplas no Congresso Nacional. Há, inclusive, relatos de que ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) pressionaram o governo para barrar o avanço da proposta, temendo que a aprovação da anistia desmoralize os julgamentos e condenações já realizados pela Corte.
Diante da pressão, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), um dos articuladores do projeto, decidiu retirar temporariamente do ar a lista com as assinaturas, alegando que o objetivo é proteger os parlamentares de possíveis retaliações. O PL pretende reunir pelo menos 280 apoios antes de reapresentar publicamente os nomes.
Mesmo com o desgaste gerado, o partido de Bolsonaro se mantém firme no discurso de que os manifestantes presos após o 8 de janeiro foram vítimas de arbitrariedades e merecem ser perdoados. A proposta, no entanto, é alvo de duras críticas por parte de parlamentares da esquerda, que enxergam na medida uma tentativa de apagar crimes cometidos contra a democracia.
A decisão sobre a inclusão da urgência na pauta de votações caberá ao presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), que ainda não sinalizou se pautará o tema nos próximos dias. Nos bastidores, cresce a expectativa para a reunião de líderes marcada para o dia 24 de abril, quando o assunto deverá ser tratado com mais intensidade.
Enquanto isso, o embate entre anistia e responsabilização continua a mobilizar os bastidores do poder, revelando que a disputa sobre o futuro político de Bolsonaro e seus aliados ainda está longe de terminar.