Campos dos Goytacazes é um dos municípios fluminenses que mais recebem royalties de petróleo. De acordo com o Info Royalties da Universidade Cândido Mendes, de 1999 até 2021, o montante chegou a R$ 30,4 bilhões. Somente em agosto deste ano, o valor arrecadado foi de R$ 55,1 milhões. A riqueza obtida tem contribuído para uma boa situação das contas do município, como mostra o Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF). No entanto, a realidade de parte da população reflete avanços sociais lentos, um dos grandes desafios para o futuro prefeito.
Dados de julho deste ano revelaram a diminuição do número de campistas que vivem em estado de pobreza, em comparação com dezembro passado. Atualmente, são 220.777 incluídos no Cadastro Único de famílias que recebem até meio salário-mínimo (R$ 706) por pessoa ou que ganham até três salários-mínimos (R$ 4.236) de renda mensal total. No último mês de 2023, havia 237.778. Ainda assim, a quantidade atual mostra que quase metade da população — 220.777 de 483.540 habitantes , segundo o Censo 2022) — vive em condição de pobreza.
A extrema pobreza é outra realidade local e foi acentuada pela pandemia. Em 2021, a Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social de Campos declarou que havia 47,6 mil famílias em condição de extrema pobreza. Cada pessoa dessas famílias vivia com até R$ 89 por mês.
Entre os desafios há também a mobilidade urbana e o aumento do nível de investimentos. Quanto à educação, os resultados também precisam melhorar. O Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC) revela nível crítico nas áreas educacional e cultural. Há poucos centros, casas e espaços de cultura; nível baixo de jovens de 19 anos com ensino médio concluído e baixo número de professores da rede pública — educação infantil e ensino fundamental — com formação no ensino superior.
Já de acordo com o IFGF, apesar da boa situação das contas na cidade, o nível de investimento local é crítico e há pouca autonomia para cobrir os custos da prefeitura sem depender de transferências. Campos chegou a ter nos anos de 2013, 2014 e 2016, no governo de Rosinha Garotinho, nível excelente de investimentos. Mas durante os governos de Rafael Diniz (2017-2020) e do atual prefeito, Wladimir Garotinho (PP), o índice regrediu para crítico.
Segundo o relatório, para que o município do Norte Fluminense potencialize o desenvolvimento socioeconômico local, será necessária uma reavaliação contínua do Código Tributário Municipal, assim como a conclusão da duplicação da BR-101, em atuação conjunta com o governo federal, incluindo os acessos aos distritos industriais. A Firjan também sugere a necessidade de maiores investimentos na educação pública e a importância de adequar a infraestrutura — água, energia, gás natural e internet — dos distritos e dos condomínios industriais.
O último Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC-BR/2021) destacou que o baixo investimento municipal está refletido em um nível de desenvolvimento sustentável muito baixo na área de Indústria, Inovação e Infraestruturas.
Mais uma vez, no período de campanha para as eleições municipais de Campos, a mobilidade urbana e o transporte público figuram como desafios do próximo governo. Em maio, a prefeitura anunciou a renovação completa da frota de ônibus, com o investimento de R$ 540 milhões do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que gera expectativas.
Uma das reclamações recorrentes entre os campistas é a dificuldade do acesso ao transporte em algumas áreas da cidade, o que tem provocado protestos. Atualmente, a insatisfação com o serviço é alta. Em junho de 2023, uma pesquisa da Universidade Federal Fluminense examinou a realidade do bairro de Ururaí para exemplificar a questão: 69% dos moradores avaliam o transporte público como ruim/muito ruim, 20% classificam como regular e somente 7% avaliam como ótimo/bom.
A pesquisa constatou que essa população enfrenta dificuldades relativas à disponibilidade de transporte coletivo, oferta de horários, condições dos ônibus, custos com a tarifa e lotação. O levantamento Também identificou os ônibus como principal meio de transporte no trajeto casa-trabalho, sugerindo maior dependência desse meio.
O transporte público e o trânsito têm irritado moradores de Campos dos Goytacazes, que fazem uma lista de desafios para o próximo governo. Na relação de prioridade, estão a redução da desigualdade social, melhorias no sistema de saúde, criação de empregos e melhorias na rede municipal de ensino.
— Desigualdade e falta de transporte público. Campos é um município que gera muito pouco emprego, metade da população é dependente da prefeitura e a falta de transporte público faz muita diferença para a cidade — afirma o empresário Leonardo Seabra Puglia.
Para a universitária Maria Eduarda Alves, segurança pública e melhorias na manutenção de áreas públicas merecem maior atenção:
— Há bairros muito abandonados. Campos tem muita coisa boa, muito lugar bonito, mas que fica sucateado: praças, escolas, a estrutura do bairro mesmo. Algumas praças que eu ia quando criança hoje em dia não têm mais como ir por conta da falta de segurança e da qualidade.
Já a nutricionista Yamara Martins sugere investimentos no trânsito, continuidade do programa de reformas de postos de saúde e geração de emprego.
Bianca Alegria Meniuk é graduanda em Ciências Sociais (UFRJ), sob a supervisão de Marcelo Remigio
PROJETO TAMO JUNTO
É uma parceria do EXTRA com o Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada (Lappcom) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em que jornalistas e pesquisadores focalizam o processo eleitoral deste ano em dez cidades da Região Metropolitana e do Interior do Rio de Janeiro, abordando problemas, apontando soluções e apresentando os candidatos e seus planos de governo.
Fonte: Extra