O decreto publicado pelo prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, que estabelece uma série de medidas de austeridade, desperta mais questionamentos do que respostas. Sob o pretexto de equilíbrio fiscal e responsabilidade administrativa, o prefeito tenta maquiar uma gestão que, desde o início, carece de transparência, eficiência e, sobretudo, sensibilidade social. A decisão de implementar cortes e restrições nos serviços públicos atinge diretamente os cidadãos que já convivem com precariedades, enquanto o discurso de "governo exitoso" soa como uma ofensa diante da realidade vivida pelo povo campista.
As medidas, que incluem o congelamento de promoções e reajustes salariais e o recadastramento compulsório de servidores e beneficiários de programas sociais, mostram o que parece ser um completo desprezo pela dignidade dos trabalhadores municipais e dos mais vulneráveis. Enquanto o prefeito se justifica apontando um suposto déficit fiscal e a "frustração de receita" advinda do governo estadual, não se vê, por parte da administração municipal, uma verdadeira estratégia de crescimento ou valorização da cidade. Onde estão as iniciativas para diversificar a economia, atrair investimentos e gerar empregos?
O discurso de austeridade, tantas vezes usado como desculpa para esconder a incompetência administrativa, aqui se repete com força total. Se o município está em dificuldades financeiras, não seria o caso de olhar para as práticas de gestão? A centralização de compras e a delegação de poderes a um seleto grupo da Secretaria de Fazenda revelam um modelo centralizador, que concentra decisões em detrimento da transparência e da eficiência. Trata-se de um convite à desconfiança e um afastamento do que deveria ser o objetivo maior: a melhoria da qualidade de vida da população.
É impossível ignorar que as políticas de austeridade, no Brasil e no mundo, frequentemente recaem sobre os mais pobres. Em Campos, o cenário não é diferente. A suspensão de benefícios de programas sociais para quem não cumprir prazos burocráticos, por exemplo, pune aqueles que mais necessitam. Além disso, a demora em reconhecer a importância de políticas públicas sustentáveis revela um governo que parece mais preocupado em manter aparências fiscais do que em resolver problemas reais.
A justificativa apresentada pelo economista Ranulfo Vidigal sobre o momento de "desequilíbrio dos principais preços da economia brasileira" não passa de uma repetição vazia de um mantra liberal que pouco explica e muito menos soluciona. A realidade campista não se resume às variações do dólar ou da taxa de juros. Ela está nas ruas esburacadas, na precariedade da saúde pública e na falta de oportunidades para a juventude. Enquanto isso, a gestão municipal se apega a discursos técnicos que pouco ou nada dizem ao cidadão comum.
O que se vê é um governo que tenta vender a imagem de responsabilidade fiscal enquanto mantém práticas que perpetuam a desigualdade e a ineficiência. Se Wladimir Garotinho realmente deseja transformar Campos, como sugere o título irônico do decreto, que comece pela valorização dos servidores, pela ampliação de políticas públicas inclusivas e pela promoção de um diálogo honesto com a população. Até lá, o prefeito estará apenas trocando máscaras, sem enfrentar os verdadeiros problemas de sua administração.