Pouquíssimos manifestantes participam de ato contra a anistia para os golpistas do 8 de Janeiro, em São Paulo — Foto: RICARDO YAMAMOTO/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO
Um protesto liderado pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), realizado neste domingo na Avenida Paulista, evidenciou uma crescente falta de engajamento popular nas pautas da esquerda e acendeu o alerta sobre a verdadeira opinião das ruas a respeito das recentes ações do Supremo Tribunal Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Apesar da intensa mobilização virtual promovida por movimentos de esquerda e da presença de figuras conhecidas como Lindbergh Farias, o ato reuniu apenas cerca de 5.500 pessoas, número modesto se comparado à multidão que tomou Copacabana em 16 de março para apoiar Bolsonaro, quando mais de 26 mil pessoas ocuparam a orla do Rio de Janeiro.
O protesto, que tinha como bandeira principal o repúdio ao PL da Anistia — projeto que propõe não criminalizar envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023 — acabou servindo como um termômetro político. O termômetro revelou algo claro: grande parte da população parece rejeitar a narrativa de criminalização ampla dos apoiadores de Bolsonaro e, principalmente, desconfia da imparcialidade do STF.
Enquanto Boulos discursava contra o que chamou de "tentativa de apagar os crimes do bolsonarismo", muitas vozes nas redes sociais questionavam a seletividade do sistema judiciário e a falta de equilíbrio entre julgamentos e perseguições políticas. O ambiente no protesto, embora pacífico, não conseguiu esconder o esvaziamento simbólico da causa: faltou povo, faltou força, faltou verdade.
A leitura política é inevitável — os brasileiros parecem cada vez menos inclinados a aceitar a narrativa de que Bolsonaro representa uma ameaça à democracia. Para muitos, o que se observa é justamente o contrário: o avanço de uma máquina de repressão ideológica disfarçada de Justiça.
O ato na Paulista foi, acima de tudo, um sinal claro: o Brasil real está acordado, atento e não se cala diante da tentativa de transformar adversários políticos em criminosos. Se depender das ruas, a verdade não será calada — nem mesmo por ministros togados ou discursos inflamados.